Por que a Atenção Psicossocial exige uma clínica fundada na psicanálise do campo Freud-Lacan?
Resumo
Discutimos alguns fundamentos de uma clínica fundada na psicanálise do “campo Freud-Lacan” que visa a oferecer Atenção aos impasses psíquicos dos sujeitos, no contexto da Saúde Coletiva, sob a perspectiva do Paradigma Psicossocial definido como superação dialética da Reforma Psiquiátrica. Para tal, se o horizonte ético da Atenção Psicossocial passa a ser a implicação dos sujeitos no desejo e no carecimento é justo propor que isso se traduza num empuxo à Psicanálise. Igualmente, estamos conectados ética e politicamente com o campo da Reforma Sanitária, originária da luta pela implantação da Saúde Coletiva como superação radical da Saúde Pública. Destacamos o imprescindível lugar da “Instituição de Saúde Mental” e dos seus estabelecimentos como intermediários necessários entre os trabalhadores da área e os sujeitos do tratamento. Assim, ao abordarmos a pertinência da psicanálise na Saúde Coletiva, elucidamos três temas fundamentais para avançar nessa direção: 1) adequar o dispositivo institucional a fim de que nele possa caber a psicanálise; 2) a caracterização de um trabalhador de Saúde Mental de um novo tipo, nomeado como trabalhador-intercessor, e 3) as noções de “acontecimento-sujeito” e de “transferência” como primordiais ao trabalho nesse campo. Sublinhamos, ainda, que, no que toca especificamente à psicanálise, nos localizamos no âmbito da ampliação do que Lacan definiu como “psicanálise em intensão”, muito longe, portanto, da noção de “psicanálise aplicada”.