Os Efeitos da Matriz Bioparental nos Processos de Adoção de Crianças e Adolescentes

  • Larissa Bergamo Zanardo
  • Fernando Silva Teixeira-Filho
  • Elisa Mariana Carvalho Ribeiro

Resumo

O presente artigo é resultante da pesquisa de iniciação científica
homônima, financiada pelo PIBIC, onde compreendemos a adoção enquanto
um processo de construção familiar dissidente de uma matriz bioparental. Esta,
a partir de um referente apoiado na matriz heteronormativa - que pressupõe
uma organização continua entre sexo/gênero/desejo -, estabelece a relação
binária de distinção entre filhos/as legítimos/as e ilegítimos/as conforme sua
origem advinda ou não de "laços de sangue”. A partir de nossa experiência
no “Projeto Laços de Amor: Adoção, Gênero, Cidadania e
Direitos”, desenvolvido junto ao Departamento de Psicologia Clínica da
UNESP, Assis, SP, efetuamos a análise de conteúdo conforme proposto por
Bardin (1977), de transcrições de atendimentos que foram realizados
no período de 2005 a 2012 no “Centro de Pesquisa e Psicologia Aplicada Dra.
Betti Katzenstein”, por alunos do quarto e quinto ano do curso de Psicologia. O
período de tempo determinado para seleção do material pesquisado deve-se à
data de início do projeto (2005) e ao ano em que a pesquisa foi realizada
(2013). Dessa maneira optamos por não utilizar casos que ainda estivessem em
atendimento, para garantir que não haveria nenhuma interferência da pesquisa
sobre estes. Nosso objetivo principal foi analisar os efeitos da matriz
bioparental e sua incidência sobre as crianças/adolescentes da amostra e seus
familiares, bem como perceber as possibilidades de escape aos assujeitamentos
dessa matriz. Os resultados obtidos apontaram-nos vários aspectos que podem
ser significativos para a compreensão dos atravessamentos discursivos
relacionados à prática da adoção. Observou-se a existência de uma grande
ambivalência ainda permeando o tema, revelando que há uma discrepância
entre o que diz e o que se faz relativamente às práticas de cuidados junto às
crianças adotadas. Se, de um lado, percebeu-se que os familiares buscam
racionalmente valorizar os laços afetivos, de outro, suas práticas e crenças,
ainda estão respaldadas em modos de subjetivação que priorizam o discurso
biológico. Tal fato denuncia um campo tensionado e conflitivo que
provavelmente vulnerabiliza as famílias que buscam priorizar os laços de afeto,
entretanto, é reconfortante e motivador perceber o poder de resistência dos
indivíduos às verdades absolutas que regem suas formas de sentir, filiar-se e/ou
exercer sua parentalidade, como também demonstrado em alguns casos do
estudo.

Publicado
2017-09-13
Seção
Artigos