Conversações

  • Sonia Aparecida Moreira França

Resumo

Neste ensaio, realizamos uma leitura crítica de dois textos clássicos da
literatura psicológica. Os textos de Maria Luiza Siquier de Ocampo e Maria Esther
García Arzeno, que se encontram no livro O processo psicodiagnóstico e as
técnicas projetivas (1981). Para as autoras, a entrevista é um campo relacional.
Logo, o modo como este se realiza depende de como se efetuam as forças que
sobrecodificam o encontro, por conseguinte, sua realização depende de como o
saber psicológico se oferta. Entretanto, observamos que o campo conceitual
exposto pelas autoras, ora está a caminhar no interior da hipótese freudiana, ora na
teoria do sujeito da consciência. Afinal, qual conceito de homem estaria a permear
as proposições teóricas enfocadas por essas autoras e as práticas delas decorrentes?
A partir da leitura do texto de Gilles Deleuze, Una Entrevista, qué es? para qué
sirve? – primeiro capítulo de seu livro Diálogos com Claire Parnet, de 1977, vemos
que a arte de construir um problema pode durar uma vida inteira e, geralmente, em
uma entrevista, quase sempre não se tem esta oportunidade. A leitura crítica destes
clássicos respaldada na filosofia da diferença, nos permite concluir que uma
conversação é um campo de experimentação dotado de murmúrios, é uma linha de
tempo a proporcionar ao pensamento uma corrente de ar fresco para os que nunca
puderam ser pensados. Neste sentido, os clássicos modelos de entrevistas
psicológicas, pautados em roteiros, pouco acrescentam à compreensão das emoções
em um sentido dialógico, mas, ao contrário, não faz outra coisa senão inventar o
objeto que se quer diagnosticar, aprisionando-o em um único sentido, o do
entrevistador.

Publicado
2017-09-23
Seção
Artigos