Homofobia e sexualidade:

o medo como estratégia de biopoder

  • Luan Carpes Barros Cassal
  • Pedro Paulo Gastalho de Bicalho

Resumo

No Rio de Janeiro, em 14 de novembro de 2010, um jovem
homossexual foi baleado por um militar em serviço, logo após a realização da
Parada do Orgulho LGBT. Para analisar a homofobia e seus efeitos como
processo de produção controlada de corpos e subjetividades no contemporâneo,
foi necessário retornar à emergência do dispositivo da sexualidade a partir do
século XVIII, conforme descrito por Michel Foucault, e o surgimento da
categoria ‘homossexual’ no século XIX. Uma classificação psiquiátrica que
identifica um ‘tipo’, com características próprias transformadas no fundamento
de sua existência. As agressões que tomam homossexuais como alvos são
punições, nomeadas de homofobia, funcionando na reafirmação das normas,
sustentados por discursos que marcam alguns modos de existência como
ilegítimos e anormais. Tal qual o militar que disparou contra um homossexual,
a eliminação de corpos se dá em nome da vida saudável, em defesa da
sociedade. A homofobia produz medo, que mata possibilidades, legitima
pedidos por controle e disciplina, move economias, esvazia o espaço público,
marca um sujeito como inimigo. Por conta do medo, o corpo-homofóbico,
anormal, precisa ser localizado, controlado, destruído, para proteção do
indivíduo-homossexual - desde que este seja adequado à diversas normas
sociais. A violência torna-se questão individual e naturalizada, enquanto a
eliminação sistemática das diferenças prossegue silenciosa. O medo é útil para
o funcionamento do dispositivo da sexualidade.

Publicado
2017-09-22
Seção
Artigos