Cartografias das produções discursivas nos movimentos de gays e lésbicas: (im)possibilidades dentro do sistema andro-heterocêntrico

  • Tânia Pinafi
  • Wiliam Siqueira Peres
  • Ana Maria Domingues de Oliveira

Resumo

O objeto de investigação aqui apresentado são as relações sociais de
sexo intergêneros na militância política de gays e lésbicas no Brasil. Desde o
final da década de 70, quando da eclosão inicial de visibilidade política do
Movimento Homossexual Brasileiro, até os dias atuais em que nos deparamos
com um movimento LGBTT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e
Transexuais) mais avançado e esclarecido por uma pauta de reivindicações de
direitos, que apresenta tanto questões coletivas quanto específicas de cada
expressão identitária dessa população (Trevisan, 2000), pode-se observar que
estes atores sociais em suas reivindicações por direitos sociais, políticos e
culturais, em uma sociedade heteronormativa, não estão totalmente isentos de
ter preconceitos sexuais e de gênero. Assim sendo, este estudo enfoca o
machismo e a misoginia, edificados dentro do sistema andro-heterocêntrico,
bem como o sistema de sexo/gênero/desejo/práticas sexuais, apresentado e
discutido por Judith Butler (2003). Igualmente, nosso trabalho visa buscar
informações sobre a relação de convivência entre gays e lésbicas no centro da
militância LGBTT. Assim, o interesse recai sobre as linhas de subjetivação que
foram, e são, agenciadas de modo a (im)possibilitar as relações hierárquicas de
gênero e de poder assimétricas. Embora seja dado um enfoque maior às
identidades sexuais e de gênero, não se exclui das análises outros marcadores
sociais como as categorias de classe, raça/etnia e geração. Os sujeitos políticos
do Movimento de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais se
constituíram em uma sociedade imersa em preconceitos de gênero e sexuais
que influem em maior ou menor medida, em suas formações subjetivas,
determinantes das posições de sujeitos que se auto-conceituam como militantes
e/ou ativistas das causas emancipatórias do coletivo em questão. Desse modo,
considera-se aqui que a subjetividade “[...] é essencialmente social, e assumida
e vivida por indivíduos em suas existências particulares.” (Guattari; Rolnik,
1996, p. 33, grifo do autor). As particularidades do contexto sócio-histórico e
político nos processos de subjetivação remetem a diferentes construções da
subjetividade carregando consigo ambivalências, paradoxos e tensões, que ora
normatiza, ora singulariza as ações. Muito tem se discutido acerca das amarras
discursivas que aprisionam os sujeitos a partir de noções ortodoxamente
sedimentadas sob modelos dicotômicos em torno do sexo, da sexualidade e dogênero. Entretanto, pouca ênfase tem sido dada nas relações intergêneros
travadas junto àqueles que vivem identidades sexuais e de gêneros dissidentes;
como se o fato de estarem ligados por uma política de coalizão os tornasse
isentos de qualquer tipo de preconceito. Para o desenvolvimento deste trabalho
serão realizadas entrevistas em profundidade com militantes gays e lésbicas, de
períodos distintos, buscando compor interfaces com categorias de classe,
raça/etnia, gênero e geração. O método cartográfico somado à perspectiva
genealógica de Michel Foucault constituirá o norte das análises do material a
ser coletado. Considera-se aqui que os sujeitos produzem discursos sobre
regimes de visibilidade/invisibilidade – que mascara divergências e faz
contenções internas na política de coalizão, cerceando o que pode ser
visibilizado – que são, em alguma medida, reveladores das linhas de saberes e
poderes que atravessam as subjetividades. Parte-se de uma postura de recusa
aos modelos fechados e universais, de verdades absolutas, para explorar as
gradações em torno do que é pensado e dito sobre o que é visto. Estas questões
ganham destaque na área da Psicologia por saírem da abordagem patológica,
que precisa ser revista urgentemente, e por poderem favorecer a produção de
conhecimento em moldes éticos-estéticos-políticos que confrontem com uma
práxis que normatiza os corpos, os sexos e as sexualidades, e os prazeres. O
presente trabalho está sendo desenvolvido em nível de mestrado e é realizado
com apoio do CNPq, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico - Brasil.

Publicado
2017-09-21
Seção
Resumo